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18 de junho de 2012

Os nomes dos personagens em Madame Bovary

          Em sua introdução à edição de Madame Bovary do "Le livre de Poche" da Hachette (2000), a professora e ensaísta Béatrice Didier levanta pontos interessantes sobre a importância da escolha/criação do nome da personagem principal, da heroína do romance. Ela afirma que a escolha do nome de um personagem é um ato capital. É com esse nome que o autor vai cristalizar todas as suas frases e palavras fazendo com que este ser, inicialmente de papel, ganhe vida e nos dê a ilusão de estar vivo, de ser real.
          Ela diz que Flaubert foi muito feliz ao encontrar e aproximar duas palavras: Emma e Bovary. O nome Emma está impregnado de sonhos romanescos e românticos, e o sobrenome Bovary possui a solidez normanda e bovina, como se a relação de proximidade entre nome e sobrenome bastasse para definir o drama da heroína. Se a escolha do título do romance por um lado nos mostra que o autor pretende concentrar todo o interesse sobre ela, é de se lamentar, talvez, que no título conste somente o seu nome social: Madame Bovary, e Emma tenha desaparecido. É que as convenções sociais foram mais fortes e Emma morreu com seus sonhos. Antes de ser Bovary, ela foi “Emma”, aquela que ama e que é amada, a heroína do desejo, sua vítima e sua mártir. A que fez do desejo um absoluto que a destruiu; a que não podemos ver sem desejar.

Nota: é importante ressaltar que o nome Emma em francês é pronunciado “emmá”, como o verbo amar ("aimer") no passado: amou, ela amou. Flaubert jogou com o som do nome ao dar nome à sua personagem.
Ruth Lifschits
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Sobre nomes e ironia em Madame Bovary de Flaubert
Comentários extraídos da introdução de Lydia Davis à edição da Cia. das Letras (2011)

Se a descrição objetiva era o método literário de Flaubert, essa objetividade sempre estava imbuída de ironia. Ver e julgar uma coisa com um olho frio era julgá-la com a ironia que desde a infância fazia parte da sua natureza. Sua ironia domina o livro, colorindo cada pormenor, cada situação, cada fato, cada personagem, o destino de cada personagem e o conjunto da história. Está presente na escolha dos nomes: a velha carroça caindo aos pedaços chamada "Andorinha" (Hirondelle); os nomes de muitos personagens, como o próprio Bovary, uma das variantes francesas de "boi"; o agiota malvado Lhereux ("o feliz"). 
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Anotação sobre o vizinho dos Bovary e seu contraponto com Emma
Extraída da introdução de Geoffrey Wall na edição da Cia. das Letras (2011)
Nada é suficiente para Emma: não há dinheiro suficiente, prazer suficiente. Homais, por outro lado, personifica uma abastança grosseira e robusta. Emma e Homais - em francês, os dois nomes sugerem femme (mulher) e homme (homem). Homais é o rude contrapeso cômico das sublimidades ansiadas, mas não tão trágicas assim de Emma. Homais e Emma, masculino e feminino, representam as energias contrárias que o próprio Flaubert encerrava desajeitadamente.
O ator Jean Yanne interpretou o papel de Homais na produção de Madame Bovary, filmada por Claude Chabrol em 1991.