25 de dezembro de 2013

De volta ao Dever, de Armando Freitas Filho

Espelho meu

Imaginar um irmão idêntico
para brincar na hora morta
quando ainda treme o Inesperado
é fraqueza e fraude de filho único.
Com o espelho à mão, sob controle
o Indivisível finge dividir-se
e por uma osmose de brincadeira
pensa que sente o mesmo de quem se doa
sem dor e avareza, livre do Narciso
do Ciúme, do Crime, de Caim e Abel.

XIX (série "Noturnos")

Beijo seu arco. Recebo sua flecha.
O prazer é machucado, fruto de traição.
A dor do dia deve ser adiada. A noite
tem que custar, mesmo que não se durma
mesmo em claro, durar, no atol escuro.