8 de abril de 2013

Wlademir Dias-Pino




Brasília e a Poesia Concreta
Wlademir Dias-Pino [1958]



    •     a arquitetura
    Um homem americano parado em sua roupa de linhas retas – calças e paletó e até mesmo com cartola – muito se assemelha a um arranha-céu. O indígena escolhe para tanga a palha que cobre a taba. O árabe, esse, se veste com a forma de uma tenda. A japonesa carrega nas mangas do vestido formas semelhantes a beirais de seus telhados. É que o homem, na rua, psicologicamente, quer se sentir protegido. É, também, que a arquitetura sempre foi um marco – monumento vivo – ao tempo que o homem habita.

    •     os tempos
    Um Hitler porque estava no poder apoiando-se na tradição militarista alemã era contra a renovação. Já Mussolini – embora fosse um homem que concordasse com o ditador alemão – estava tomando o lugar do rei, então, não podia, de forma alguma, firmar uma tradição e era pela renovação.
Aqui no Brasil o modernismo de 22 estava cercado por uma série de acontecimentos políticos. A geração de 30 ajudada por Getúlio Vargas fez a literatura social-econômica do nordeste. Uma literatura abrasante. Era um estado novo para o Brasil.
    A leda e pálida geração de 45 anunciava o enfraquecimento dos partidos políticos. Agora surge o Concretismo 1956 justamente na época do nascimento de Brasília. É que o Brasil começa a se industrializar. Há uma renovação constante de técnica na procura de uma técnica toda nossa e isso é também o Concretismo.
    A poesia concreta quer resolver o espaço branco do papel pela maneira mais funcional. Poesia concreta é espaço e luz. Nem é à-toa que um poema concreto se assemelha a uma sadia planta arquitetônica.
    É que Brasília e Poesia concreta são um marco ao tempo que o homem habita.

    •     um poema
    Se fossemos fazer um poema concreto em homenagem ao Sr. Juscelino, por ex., teríamos conscientemente de dividir o trinômio.

    escola
    energia
    transporte

    escola - seria o abc.
    energia – seria a existência de cada palavra habitando um tempo, isto é, revelando um espaço.
    transporte – a movimentação pela própria ordem alfabética então, reunindo as “sínteses” teríamos o poema:

        a b c d e f g h i JK

Prezados alunos meus

Espero que – como dizem – as crises sejam úteis. Continuo como a professora primária a arder no ônibus pela culpa de não ter sido o ideal. A gente não se cura de ideais – a gente, professora. E quer formar. Ledo engano. A gente é só rescaldo de experiência. Olhem, o sentido está em aparentar que se é professora, quando o segredo é que se é tão aluna quanto. O remorso de estar sem idéias ou ideais arde no primário do professor, que se esquece de sua vocação como carregador de forças. Mas não carrego a força de vocês não. Carrego uma tocha? Carrego uma brisa. Carrego chuvas. Carrego um laguinho sorridente. Carrego até um pouco de inferno e muito de caos. Me perdoem se vocês esperavam uma formadora. Eu estou em plena troca de peles. E não tenho como discursar agora quando estou vestida de mudança. Em plena troca de pele. Paciência e aprendizagem. Com o silêncio e com as palavras de confusão:

De quem será essa voz que diz coisas sobre a estrela a brilhar na testa dos outros? São coisas. Às vezes comentários sobre a obscenidade do brilho, às vezes sobre o amanhecer que era possível ver na testa. De quem será essa voz disfarçada de comandar brilhos alheios? Contei histórias em que meu umbigo intrometeu-se na esfera aureolada de uma distância fora do seu alcance. Contei nos dedos as estrelas que foram espadas, mas quem precisa de olhos atravessados pela prata cinzelada e pelo fio cortante da perspicácia? “Não, dê boas-noites, reze e durma.” Hoje já é iluminado por si-só.

A reza do por si-só
Creio em figuras e noções compactas.
Creio na fé do que se diz escrito.
Creio no caldeirão da própria alma.
Creio que, por si-só, a gente sabe.
Creio que o fogo arde e a água esfria
e que é possível lançar um ou expurgar outro.
Mas ambos sempre hão de jazer, disponíveis.
Creio que as virtudes são em em sol e solidão
onde farpa não entra
e que estas são as escritas finas.
Creio, meus amigos, e não abro mão das bençãos.
Diga sim, diga não, é benção.
É dizer: creio, por si-só.

Escrevam por lanches ou por dinheiros. Seremos sempre sós. Escrevam por lógicas ou elogios. Tanto faz. Só no tamborilar dos símbolos, ressurgirá o ritmo da vida como vírgula. O ritual na escritura. Beijos de quem também adormece, BiaA.

Nota: não esquecer da criação e da recreação para além dos credos.