8 de abril de 2013

Prezados alunos meus

Espero que – como dizem – as crises sejam úteis. Continuo como a professora primária a arder no ônibus pela culpa de não ter sido o ideal. A gente não se cura de ideais – a gente, professora. E quer formar. Ledo engano. A gente é só rescaldo de experiência. Olhem, o sentido está em aparentar que se é professora, quando o segredo é que se é tão aluna quanto. O remorso de estar sem idéias ou ideais arde no primário do professor, que se esquece de sua vocação como carregador de forças. Mas não carrego a força de vocês não. Carrego uma tocha? Carrego uma brisa. Carrego chuvas. Carrego um laguinho sorridente. Carrego até um pouco de inferno e muito de caos. Me perdoem se vocês esperavam uma formadora. Eu estou em plena troca de peles. E não tenho como discursar agora quando estou vestida de mudança. Em plena troca de pele. Paciência e aprendizagem. Com o silêncio e com as palavras de confusão:

De quem será essa voz que diz coisas sobre a estrela a brilhar na testa dos outros? São coisas. Às vezes comentários sobre a obscenidade do brilho, às vezes sobre o amanhecer que era possível ver na testa. De quem será essa voz disfarçada de comandar brilhos alheios? Contei histórias em que meu umbigo intrometeu-se na esfera aureolada de uma distância fora do seu alcance. Contei nos dedos as estrelas que foram espadas, mas quem precisa de olhos atravessados pela prata cinzelada e pelo fio cortante da perspicácia? “Não, dê boas-noites, reze e durma.” Hoje já é iluminado por si-só.

A reza do por si-só
Creio em figuras e noções compactas.
Creio na fé do que se diz escrito.
Creio no caldeirão da própria alma.
Creio que, por si-só, a gente sabe.
Creio que o fogo arde e a água esfria
e que é possível lançar um ou expurgar outro.
Mas ambos sempre hão de jazer, disponíveis.
Creio que as virtudes são em em sol e solidão
onde farpa não entra
e que estas são as escritas finas.
Creio, meus amigos, e não abro mão das bençãos.
Diga sim, diga não, é benção.
É dizer: creio, por si-só.

Escrevam por lanches ou por dinheiros. Seremos sempre sós. Escrevam por lógicas ou elogios. Tanto faz. Só no tamborilar dos símbolos, ressurgirá o ritmo da vida como vírgula. O ritual na escritura. Beijos de quem também adormece, BiaA.

Nota: não esquecer da criação e da recreação para além dos credos.

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