Arlette Santos
O texto me agradou. No dia em que foi comentado em aula não estava muito inspirada, e pouco falei. Mas numa dessas noites, sozinha, resolvi relê-lo. Gostei da abordagem, o autor chama a velha de “velha”. E não era mesmo? Chamar um negro de “negro” para identificar uma de suas características não significa preconceito, nem chamar uma loura de “loura” revela qualquer intenção oculta de insinuar que ela seja burra.
Voltemos à vaca fria, ou seja, à velha senhora indigna: será que os filhos consentiam que ela tivesse “um lar em sua casa” ou somente “um canto para ir ficando”? E o filho, o tipógrafo, será que queria ir morar com a mãe apenas para se livrar do aluguel e viver com mais conforto? Fico a imaginar se meus filhos trocassem correspondência para decidir que destino me dariam (como se eu fosse “um troço”).
O texto mostra o preconceito para com os velhos, a falta de amor e a mesquinhez. Pelas falas e modo de expressar do neto da senhora considerada indigna, a avó continuava a mesma, apesar de fazer tantas coisas que os filhos desaprovavam: “era a mesma de sempre”. Apenas passou a levar a vida a que tinha direito e sobre a qual não devia satisfação a ninguém. Não quis acompanhar o filho ao cemitério para visitar o marido? E daí?
Também eu, há um bom tempo, só vou ao cemitério para enterrar meus mortos queridos. Quisera que todos eles optassem pela cremação. O filho tipógrafo insinuou um “affaire” entre a mãe e o sapateiro. E se fosse verdade, que mal haveria? Se só sobrou na cidade o filho fofoqueiro, melhor seria se não tivesse ficado ninguém.
Referir-se à pessoa que ela escolheu por acompanhante como “idiota” e “aborto” é o cúmulo da mesquinhez e preconceito! Imagine se meus filhos, netos, irmãos e amigos se referissem à M. – minha acompanhante – dessa maneira... E olhe que saio com ela para ir ao cinema, teatro, visitar parentes e amigos. Vamos à feira, supermercado, caminhamos... Será que tem alguém que faz comentários daquele tipo no meio em que vivo?
Realmente me diverti com a leitura desse texto. E, para completar, neste fim de semana o porteiro do prédio em que moro interfonou dizendo que o Sobral – antigo proprietário do meu apartamento – entrara em contato pedindo meu telefone para repassá-lo ao Heitor, que ficara compungido ao saber da morte do meu marido. Os três haviam sido colegas na academia de yoga do Professor Hermógenes. O porteiro, cioso de suas funções, disse que iria me pedir permissão, e então, para facilitar, o Sobral deixou seu telefone. Liguei, conversamos um pouco, e ele perguntou se eu ainda estava trabalhando. Disse-lhe que há muito estava aposentada, e então ele retrucou: “Mas a senhora saía muito...” Não, Sobral, eu ainda saio muito.
NÃO SOU CRÍTICA MAS GOSTEI. PARABÉNS, TIA!
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