Bia Albernaz
É muito comum ouvir que, na escrita literária, 5% cabem à inspiração, e que o resto é trabalho, com o intuito de desmistificar a idéia de que arte se faz “de papo pro ar”. Mas tente escrever algo contando apenas com os 95% de expiração. Essa proporção é forçada, sobretudo se reconhecermos que – fundamental – a leitura é inspiradora. Com que porcentagem de leitura, afinal, se escreve um texto?
Começamos a escrever um texto a partir do que desconhecemos. Focamos aquilo que não se encaixa, mas que sabemos ser um começo. Saber é crença, como afirma Duchamps. Se juntarmos o que não se encaixa com o que se acredita, podemos começar. De um lado, os senões da realidade; do outro, a participação, o envolvimento, a fusão do eu ao outro. Impossível dizer onde começa ou onde termina um texto. A inspiração mantém-se intermitente, como um sabiá que é preciso às vezes realimentar, pelo desejo de tornar a ouvi-lo.
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Manifesto do movimento expressionista Die Brucke (A ponte), que procurava estabelecer uma ligação entre o visível e o invisível. |
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