14 de outubro de 2011

Joeverson

Maria Tereza Albernaz
          Não fazem parte da vida do Joeverson hábitos e comportamentos simples. Hábitos esperados de qualquer criança. Na escola, onde qualquer aluno atende a solicitações da professora, seja por respeito, timidez ou comodismo, Joeverson só costuma obedecer se houver recompensa ou ameaça de punição. E precisa ser explícita.
          Provocativo, ri ele mesmo de suas brincadeiras maldosas com seus colegas. Debocha das gordas, das magras, dos fracos, dos que não sabem ler ou fazer os deveres. Usa palavrões repetidos nas conversas com as professoras, fala o que vem à cabeça para desconcertar ou atordoar. Contrariado, Joeverson age com agressão e adota uma atitude de desprezo pelo exercício, pela brincadeira ou pela turma, inclusive as professoras.
         Com inteligência acima da média, curiosidade e memória extraordinárias, surpreende a familiaridade de Joeverson com assuntos diversos. Lê e compreende com certa facilidade e, se porventura, a questão não é do âmbito escolar, ele já ouviu falar e tem algo a dizer. Se não conhece e tem interesse, pergunta e escuta atentamente a resposta.
          Como gosta de mostrar que sabe mais do que os outros, quando disposto, ajuda os colegas nos deveres, mas impacienta-se com os que não acompanham suas explicações. Participa com entusiasmo de atividades coletivas, principalmente se houver competição. Mais ainda, pede e gosta de jogos com desafios, e na maioria das vezes, claro, é o vencedor.
          Joeverson é um menino negro, lábios grossos, roupas velhas, muito pobre, mora com uma avó porque sua mãe é presidiária.
          Uma ou duas vezes, por ter sido repreendido fortemente, sentou-se num canto da sala e seus olhos encheram-se de lágrimas. Nesses momentos, somos lembrados da fragilidade do menino rebelde.
Bansky

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