21 de dezembro de 2011

Momento vivido

Ruth Lifschits
          Hoje de manhã, atrasada e pensando no que teria de enfrentar nas próximas horas, uma voz suave me trouxe de volta para onde eu realmente estava e devia estar: em casa e com o neto em apuros.
          — Vó, meu dever de casa está confuso.   
          Pedi a ele que lesse o enunciado da questão. Ele leu em voz alta:  “acrescente uma letra às palavras abaixo e crie novas palavras”. 
          Ele tinha criado bamba ao inserir um ‘m’ entre as duas sílabas de baba e queria saber se essa palavra existia. 
          — Existe sim. 
          — Mas o que é bamba?, ele perguntou. 
          — Já vamos descobrir, disse, enquanto alcançava meu ‘Aurélio’ na estante. 
          Mostrei a ele o dicionário, dizendo:
          — Aqui estão quase todas as palavras da nossa língua. 
          Ele arregalou os olhos: 
          — Que livro grandão! 
          Pediu para segurá-lo, queria ver se era pesado. 
          Juntos, folheamos o dicionário. Mostrei a ele a ordem alfabética na listagem dos verbetes e sugeri que procurássemos a palavra bamba. Deixei que ele virasse as páginas, procurando o grupo das palavras  começadas com b. Ele foi para o começo do livro, passando as páginas com delicadeza e parando os olhos aqui e ali para se orientar. Me mostrou que ban vinha depois de bam, e finalmente achou a palavra. Mostrei a ele que havia explicações sobre o sentido e o uso de bamba — as definições. Lemos todo o verbete e pensamos em exemplos diferentes dos que tínhamos acabado de encontrar. 
          Ele fechou o livro e voltou para a mesa de estudos, já sabendo a frase que escreveria com a palavra que acabara de aprender.                  
          Acariciei  o bom amigo Aurélio e o devolvi à prateleira.
Capa da primeira edição, do designer e ilustrador ítalo-brasileiro Gian Calvi.
Para acessar o Dicionário do Aurélio online clique AQUI.

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