Ruth Lifschits
Hoje de manhã, atrasada e pensando no que teria de enfrentar nas próximas horas, uma voz suave me trouxe de volta para onde eu realmente estava e devia estar: em casa e com o neto em apuros.
— Vó, meu dever de casa está confuso.
Pedi a ele que lesse o enunciado da questão. Ele leu em voz alta: “acrescente uma letra às palavras abaixo e crie novas palavras”.
Ele tinha criado bamba ao inserir um ‘m’ entre as duas sílabas de baba e queria saber se essa palavra existia.
— Existe sim.
— Mas o que é bamba?, ele perguntou.
— Já vamos descobrir, disse, enquanto alcançava meu ‘Aurélio’ na estante.
Mostrei a ele o dicionário, dizendo:
— Aqui estão quase todas as palavras da nossa língua.
Ele arregalou os olhos:
— Que livro grandão!
Pediu para segurá-lo, queria ver se era pesado.
Juntos, folheamos o dicionário. Mostrei a ele a ordem alfabética na listagem dos verbetes e sugeri que procurássemos a palavra bamba. Deixei que ele virasse as páginas, procurando o grupo das palavras começadas com b. Ele foi para o começo do livro, passando as páginas com delicadeza e parando os olhos aqui e ali para se orientar. Me mostrou que ban vinha depois de bam, e finalmente achou a palavra. Mostrei a ele que havia explicações sobre o sentido e o uso de bamba — as definições. Lemos todo o verbete e pensamos em exemplos diferentes dos que tínhamos acabado de encontrar.
Ele fechou o livro e voltou para a mesa de estudos, já sabendo a frase que escreveria com a palavra que acabara de aprender.
Acariciei o bom amigo Aurélio e o devolvi à prateleira.
Capa da primeira edição, do designer e ilustrador ítalo-brasileiro Gian Calvi. Para acessar o Dicionário do Aurélio online clique AQUI. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário