Alberto Mussa - O senhor do lado esquerdo (romance)
Sérgio Sant’Anna, também premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) - O livro de Praga (conto)
Daniel Lima, teólogo e professor de 95 anos, em sua obra de estréia, publicada pela Companhia Editora de Pernambuco - Poemas
Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA)
Rubens Figueiredo - tradução de Guerra e paz, de TolstóiFrancisco Alvim - O metro nenhum (poesia)
Wilson Bueno - Mano, a noite está velha (romance)
Prêmio Portugal Telecom
Rubem Figueiredo - Passageiro do fim do dia (romance)2012
Temporada de inéditos na editora Grua
Tailor Diniz (RS)Tércia Montenegro (CE)
Luiz Andrioli (PR)
Luís Roberto Amabile (SP)
Dez anos de Flip
(4 a 8 de julho)
O britânico Ian McEwan, que esteve na Festa Literária de Paraty em 2004, participa novamente do evento neste ano. Ainda em comemoração a seu aniversário, a organização prepara um livro e uma caixa de DVDs reunindo os principais destaques de seus dez anos. Informações obtidas no Jornal Rascunho
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Trechos de entrevistas do Jornal Rascunho
Adriana Lunardi Tendo a achar que o leitor aprecia a confusão entre o ficcional e o biográfico; se sente mais participativo ao ter margem de suspeição de que a história que está lendo foi vivida pelo autor. Parte disso vem de nossa relação problemática com a verdade, especialmente em nossa cultura ibérica, católica, onde simular é pecado. É como se o autobiográfico acrescentasse uma função exemplar à literatura, por isso o apreço maior pela coisa vivida do que à coisa simplesmente imaginada. Nesse caso, temos que usar o disfarce, o drible, o despiste para parecer que é verdade o que estamos escrevendo. Mesmo quando se afirma tratar-se de um texto de ficção, o leitor procura fantasmas nas entrelinhas, lê entrevistas do autor e toma emprestado delas as razões e motivos de ele escrever o que escreve. De minha parte, eu jogo o jogo. O importante é conseguir o efeito de verdade que o texto produz. Assim, ao ter certas garantias “documentais”, o leitor relaxa, deixa-se levar por aquilo que ele atribui como sendo a parte ficcionalizada da escrita. No que, claro, pode estar bem enganado. Em Vésperas, lidei diretamente com essas falsas garantias: em geral, o que se lê como ficção é pura biografia, e vice-versa.
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Ana Paula Maia
Comecei a ler livros sobre filosofia, filosofia oriental. Peguei esse caminho. Acho que foi porque era o que tinha lá em casa. Platão foi um autor que me tocou profundamente nesse início de leitura. Primeiro, li a biografia dele. Passado um tempo, consegui comprar as obras, livros, edição de bolso, os Diálogos. Diálogo é uma coisa de que gosto muito. Foi fundamental ler esses diálogos de Platão. Gosto muito do diálogo na literatura. Acho que há uma dificuldade em se criar diálogos na literatura. Tem autores que acham que o diálogo não é um bom sinal. Eu gosto muito, justamente porque ele traz à tona coisas do personagem que o autor não conhece. É naquele diálogo que brotam muitas vozes, muitas coisas novas. Coisas até para o rumo da história. Um diálogo, uma reação de um personagem, leva a história para um lugar que, às vezes, você não tinha pensado. Para mim, o diálogo tem esse poder — não só de me permitir conhecer mais do personagem, mas de ter novos rumos possíveis para a sua história. O apanhador no campo de centeio foi um dos livros mais importantes na minha vida. O Salinger foi um revolucionário para mim, foi fundamental. O habitante das falhas subterrâneas (2003) faz um paralelo direto com O apanhador. Foi a maneira como comecei a escrever. Comecei a escrever muito inspirada e fazendo um paralelo na obra de alguém. Da minha forma, com as minhas experiências, algumas lembranças, fui construindo o livro. Mas foi o que saiu primeiro. O primeiro jorro, você não sabe se será bom ou ruim, não sabe o que está fazendo.
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Rubem Figueiredo
Pensei que seria possível questionar, investigar e conhecer aspectos importantes do quadro histórico atual por meio dos recursos oferecidos por um romance. Tomei o cuidado de não mencionar datas nem nomes de lugares reais. Não porque eu pretendesse conferir um cunho universal ao livro. Ao contrário: eu queria que os aspectos concretos e particulares pudessem ser percebidos como partes de uma experiência familiar, vivida e bastante generalizada (mas não universal, nem fora de um tempo). A saber: a experiência de estarmos submetidos a um processo social que precisa a todo custo manter-se oculto. Um processo que reforça cotidianamente a idéia de que os diversos aspectos da vida mais corriqueira são fatos avulsos e descoordenados, vazios de qualquer sentido que não seu fim mais imediato. Também por isso me veio em algum momento a idéia de incluir o Darwin no romance. Eu procurava um meio de o livro incorporar uma dimensão histórica com um alcance mais remoto, mais abrangente. O livro velho e meio vagabundo sobre o Darwin que o protagonista lê no ônibus podia permitir que eu evocasse o colonialismo, a escravidão — pois o Darwin fez relatos sobre isso quando contou sua visita ao Brasil. É bem verdade que ele foi muito, muito menos severo quando se tratava de injustiças flagrantes que presenciou em colônias britânicas. De todo modo, a própria teoria de Darwin foi bastante oportuna para o colonialismo inglês: a longo prazo, um substituto da religião para legitimar a desigualdade social. Com isso meu romance poderia também, em alguma medida, discutir o papel da ciência num contexto de relações desiguais de poder. Por esse caminho, a ciência vinha se unir à justiça, à medicina, à educação, à economia, à arte, à publicidade, aos meios de comunicação, ao trabalho, enfim, a um vasto arsenal de fatores que valem por instrumentos de uma opressão cotidiana e repetida, até um aparente embotamento de suas vítimas. Desse modo, os personagens do romance muitas vezes se sentem perseguidos, acossados, para onde quer que se voltem.
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