Renata Figueiredo
Era uma loja de luxo, de grife, no Rio de Janeiro, num shopping de bacanas no bairro de São Conrado. O motivo de ter entrado na loja era um só, comprar uma roupa bem bonita para a festa de aniversário do meu filho que estava fazendo 4 anos. A proposta era comprar algo neutro, básico, porém colorido, sexy e original. Querendo ou não, eu era a mãe do aniversariante, e queria estar bem bonita para comemorar mais um ano de vida de meu filho tão amado.
Assim que entrei na loja fui abordada pela vendedora que, muito simpática, tentou me ajudar a escolher uma roupa para a ocasião. Ela era jovem, magra, falante. Tinha um jeito bem parecido com o meu. Não demorou muito, e já estávamos nos tratando como se fossemos amigas de longa data. Escolhemos juntas exatamente aquilo que eu procurava. Uma calça rosa básica, discreta, que se destacava pela sua cor e corte alinhado, e uma blusa de tricô, da cor vinho, de manga três quartos, com uma ligeira abertura nas laterais dando um ar levemente ousado e jovem à roupa. Essa foi a primeira compra de muitas outras.
A loja cresceu e abriu uma filial em Ipanema. A vendedora que, para mim, já era uma amiga, foi ser gerente da nova loja. Eu, cliente assídua, não tinha uma vez que não fosse recebida de forma amável e carinhosa. Consumidora assumida, sabia que ali existia, além da troca comercial, uma amizade que a cada encontro ia crescendo.
Vida dura, de ralação, horas e horas de venda e ela me mostrava tudo e mais um pouco. E eu por gostar e poder dispor de horas dentro de uma loja e ter dinheiro mais que o suficiente, acabava comprando tudo o que via na minha frente. Ganhava em roupas e em momentos agradáveis ao seu lado, e ela ganhava em comissão, e também em momentos agradáveis ao meu lado. Plena consciência do que era a nossa relação.
Passados uns tempos, fui cansando desse consumismo, não precisava mais e, financeiramente, não podia mais. Por isso, deixamos de nos ver com tanta freqüência. Passava rapidamente pela loja e apenas conversávamos sobre amenidades. Até que um dia ela me falou que estava saindo da loja para abrir a sua própria marca.
Chegada a hora da inauguração, lá estava eu, prestigiando e comprando. Bem menos do que antes. Queria mesmo era poder ter alguma coisa dela, como lembrança, como prestígio e ter uma peça como parte da nossa história, dessa nova história. Literalmente, incorporei o nome da marca. É coisa delas. Nos entendíamos e isso bastava.
Depois disso, na grande montanha-russa da vida, aconteceram tombos e vitórias. Mudanças daqui e dali, de endereços, de sócios... mas lá estava ela, sempre dando seu jeito, mexendo seus pauzinhos, na luta. Hoje, o forte da sua loja é a malha, o básico, o confortável, o bom gosto e a beleza. Ela é a modelo que veste e vende seus produtos. Com a mesma simpatia, sorriso, brilho, força e garra de uma boa libriana. Isso mesmo, libriana de carteirinha. Aí deve estar o segredo, o mistério que transformou uma relação entre cliente e vendedora numa de amiga para amiga. O empurra-empurra acabou virando comissão da verdade, e ainda pago da melhor forma possível, com direito a desconto e tudo. E assim continuamos, trocando de roupa a cada encontro, sem deixar de lado a beleza que é o nosso presente, e que nos faz enxergar as verdadeiras e boas aquisições.