24 de abril de 2012

Este mundo em que vivemos 1


Maria Tereza Albernaz
Ilsutração a partir de foto (Voluvia)
          O cheiro forte de peixe e flores velhas provoca náusea quando se entra na Rocinha pela ladeira de cima. As ruas estreitas sujas, pontilhadas de detritos intensificam o cheiro, e caminhar pelos calçamentos irregulares e degraus desalinhados exige atenção redobrada. Por algumas paredes e por pequenos buracos, faça sol ou chuva, escorre uma água escurecida. O emaranhado de fios elétricos sugere que a qualquer momento um forte curto circuito vai acontecer.  
          Entre portas fechadas ou entreabertas, na rua principal, lojinhas de todo o tipo oferecem comida, bebidas, roupas, material de construção e serviços, principalmente de consertos de televisão. Barulho e música alta. Dividindo a rua com passantes, em tabuleiros improvisados, multiplica-se o comércio de DVDs e CDs piratas, picolés, balas, biscoitos e muito mais.
          O trânsito de gente e cachorros é intenso. Mercadorias e sacolas são levadas de um lado para o outro e os carregadores pedem prioridade anunciando a carga pesada. Algumas crianças encontram espaço para brincar e jogar bola. De cócoras, alguns velhos quietos lembram figuras em paisagem rural. Inusitados no ambiente, os grupos de estrangeiros, jovens em sua maioria,  anotam, fotografam e reúnem-se em cantos para escutar o instrutor ou guia.
          Ritmo frenético, quente demais no calor, úmido e frio nos tempos chuvosos. Esta é a primeira impressão que tive da Rocinha e que persiste a cada dia que entro lá. O mesmo espanto, o mesmo mal estar, a mesma tristeza e tantas dúvidas.

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