Maria Tereza Albernaz
Ilsutração a partir de foto (Voluvia) |
O cheiro forte de peixe e
flores velhas provoca náusea quando se entra na Rocinha pela ladeira de cima. As
ruas estreitas sujas, pontilhadas de detritos intensificam o cheiro, e caminhar pelos
calçamentos irregulares e degraus desalinhados exige atenção redobrada. Por
algumas paredes e por pequenos buracos, faça sol ou chuva, escorre uma água
escurecida. O emaranhado de fios elétricos sugere que a qualquer momento um
forte curto circuito vai acontecer.
Entre portas fechadas ou
entreabertas, na rua principal, lojinhas de todo o tipo oferecem comida,
bebidas, roupas, material de construção e serviços, principalmente de consertos
de televisão. Barulho e música alta. Dividindo a rua com passantes, em
tabuleiros improvisados, multiplica-se o comércio de DVDs e CDs piratas,
picolés, balas, biscoitos e muito mais.
O trânsito de gente e
cachorros é intenso. Mercadorias e sacolas são levadas de um lado para o outro
e os carregadores pedem prioridade anunciando a carga pesada. Algumas crianças
encontram espaço para brincar e jogar bola. De cócoras, alguns velhos quietos
lembram figuras em paisagem rural. Inusitados no ambiente, os grupos de
estrangeiros, jovens em sua maioria, anotam,
fotografam e reúnem-se em cantos para escutar o instrutor ou guia.
Ritmo frenético, quente
demais no calor, úmido e frio nos tempos chuvosos. Esta é a primeira impressão
que tive da Rocinha e que persiste a cada dia que entro lá. O mesmo espanto, o
mesmo mal estar, a mesma tristeza e tantas dúvidas.
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