Gainsborough, um detalhe |
Maria Tereza Albernaz
Entrando no grande apartamento, logo percebi que não havia nada fora do lugar, nada fora de ordem. Salas sóbrias, cores neutras e perfeita arrumação dos móveis, quadros e objetos decorativos. Não era necessário ser conhecedora de reformas e decoração para saber que boa qualidade era uma exigência da dona da casa.
No apartamento, dez mulheres se encontravam para festejar o aniversário de M.
Os janelões abertos refrescavam o ambiente e mostravam a linda paisagem do mar e das montanhas que acolhiam o Alto Leblon. Brancas flores delicadas, combinando com a toalha, enfeitavam a mesa. Três empregadas uniformizadas, entre uma e outra convidada, ofereciam canapés e sucos naturais. No almoço, a comida frugal e sofisticada descansava sobre os aparadores. Um vinho leve foi oferecido. Bolo, velinhas, nem pensar. Depois do café, servido em frágeis xicrinhas de porcelana, algumas amigas, tranquilamente, foram fumar em uma das salas.
Todas nós, mulheres, tínhamos aproximadamente a mesma idade – um pouco mais, um pouco menos de 60 anos. Jóias discretas, roupas clássicas, básicas, pouco coloridas, algumas rejuvenescidas por uma peça ou um detalhe mais moderno. Extravagante, original, sexy? Nenhuma. Vulgar, muito feia ou muito gorda? Também ninguém. Todas bem cuidadas, tratadas.
A conversa girava sobre temas gerais. Quando o assunto referia-se à família, o foco estava nos filhos, seguidos por noras e netos. Sobre os genros, pouco se comentava. Muito se falava sobre viagens, países visitados, férias. Bons restaurantes contrapunham-se a dietas e atividades físicas praticadas pela maioria. Depois da troca de recomendação de filmes e livros, debatemos planos de fim de semana. Nada de temas polêmicos, discussão. Nada de exposição de problemas ou demonstração de excitação.
Eu era parte do conjunto. Monótonas, umas parecíamos com as outras. A falta de ardor exasperava. Tive de sair.
Gainsborough, outro detalhe (do blog da Duquesa Devonshire) |