Vão dizer que não existo propriamente dito.
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que eu tenho vocação pra ninguém.
Meu pai costumava me alertar:
Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som
Das palavras
Ou é ninguém ou zoró.
Eu teria 13 anos.
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que
se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir as suas
Irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.
***
PALAVRASVeio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar de debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que a palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar de debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com sua flauta de couro. O grilo feridava o silêncio. Os moradores do lugar se queixavam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestrututou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram de debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras, pois que desestruturaram a linguagem. E não eu.
(Ensaios fotográficos)
***
Exercício com Manoel
ESCOLHER UMA FRASE &
DESENVOLVER UM TEXTO
A PARTIR DELA OU CONCLUÍ-LO COM ELA.
Sábio é o que adivinha.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Tudo que não invento é falso.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
Do lugar onde estou já fui embora.
Não gosto de palavra acostumada.
O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário