16 de setembro de 2011

Bruno

Maria Tereza Albernaz
          Se uma criança tivesse que representar as travessuras da turma, este seria o Bruno. Não que ele lidere as outras crianças, mas com 7 anos, não faltam irrequietação e energia no menino.
          O Bruno é pequeno, pele clarinha meio encardida, dentes todos atrapalhados na boca. Provavelmente, este é o problema responsável pela má dicção. Ele fala pouco, baixinho e é mesmo difícil entender o que diz. Pode ser também um dos motivos para preferir fazer suas traquinagens sozinho e não participar de atividades coletivas. E, talvez o incentivo para que ele desenvolva uma enorme capacidade de emitir sons inusitados que, durante as aulas, irritam os alunos e as professoras. A qualquer tempo, o Bruno surpreende com imitações de animais, toques na porta, rangidos de ferro com ferro, e outros tantos ruídos. Sempre repetidos à exaustão dos outros.
          É curioso como o Bruno consegue se esconder em uma sala pequena. Ele se deita, se agacha, escorrega no chão e, se ninguém procurar por ele, por longo período, fica apertado embaixo de um armário de tamanho mínimo. Assim, está sempre um pouco empoeirado ou sujo de caneta e tinta. É difícil para o menino ficar sentado sem colocar um pé para cima, os dois pés para cima, não ficar ajoelhado ou recostado na carteira até quase cair, sempre com um lápis na boca. Fica assim até ser chamado à atenção mas, em poucos minutos, volta a se desconjuntar.       
          Tanto suas roupas como o material escolar não podem ser mais simples. Short e camiseta surrados, chinelos gastos e, se o tempo estiver frio, um casaco leve e um pouco rasgado. Sua mochila é velha e sem cor. É visível o desleixo que cerca o menino em todos os aspectos. Sua aparência, seu lápis, seu caderno, tudo demonstra falta de cuidado com ele. Não espanta a indicação no registro da escola de que Bruno foi abandonado pela mãe, ainda que ela também more na Rocinha.   
          Bruno vive com a avó e o irmão, junto com mais duas crianças. Como a casa é próxima da escola, os meninos voltam com as professoras. No entanto e tristemente, é a bebida que impede a velha senhora de assumir o compromisso de buscar as crianças ao final das aulas. E a circunstância de acompanhar o Bruno permite que sua casa seja vista pela porta sempre entreaberta – um cômodo atolado de objetos, escuro, com cheiro forte de cachaça.  
          O Bruno é uma criança exasperante na sala de aula. Mas, depois de conhecer um pouco mais o menino, “travessuras” parecem uma resposta pequena para uma vidinha como a sua.
Menino da garrafa, Nicolau

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