18 de agosto de 2014

Escrita: terceira margem

Foto:JMGLA
Primeira margem: no pra cá pra lá, no meio do rio, no de repente, uma lancha de muitos pés, grande calado: os pés marolam pelas ondas que a lancha faz. Passa rápido mas vi seu nome desenhado – LITERATURA. Atrás rabeava uma corda. Segunda margem: chama-se o MENINO. Menino, você é o Pai: contra o pai, conta o pai, outras primeiras estórias. Terceira margem: a POESIA 
Bia Albernaz
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Vida vivida: falta de chão firme, de segurança, de conforto – tudo ilusão. É a escrita a vida de verdade? É a essência sem aparência, a liberdade de inventar, de criar personagens sem máscaras para outros? Assim deveria ser? É uma fuga? Um esconderijo de obrigações, deveres, compromissos? Escrever sem regras impostas, sem padrão, respeitar somente o querer. É um delírio? Um sonho? É comunicar com quem faz igual? Cada pessoa pode formar com o outro e o outro e o outro – uma forma de sobreviver. Aí, aceita, se expõe e o seu trabalho, suas ideias transformadas em histórias, memórias, graças, dramas. Corre a vida paralela: funções e papéis determinados. Rompe-se aqui e ali, mas o enquadramento sempre amarra. A escrita solta. 
Maria Tereza Albernaz
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Foto:BiaA.
Viver e ter coragem para escrever. Escolher viver criando, se expondo – sem nada, mas com tudo. Desapegada de outros fazeres, na vida com o escolhido, imersa em sentimento e imaginação, sem preocupação com o tempo. Sendo uma, sendo muitas e muitos, aqui e em todos os lugares e tempos. Entregue, sem domínio do externo, dominando o interior. Sem se deslocar, mas em todos os lugares. No fluxo da escrita, sem passado e sem futuro, num imenso aqui-e-agora múltiplo e variado. Seguindo, indo, sendo. 
Ruth Liftschts
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Não é a primeira, segunda ou terceira margem, a literatura é a canoa que nos conduz. Ao se afastar da primeira margem, nos fornece o distanciamento necessário para que possamos vê-la em toda sua extensão e complexidade. O canoeiro do conto de Guimarães Rosa, por exemplo, viu arderem por ele chamas insuspeitas. Da outra beira, a literatura nos descortina o conhecido e o desconhecido. E à terceira margem, nada é melhor do que ela para nos levar. 
Flávio Franklin
Com direção de Nelson Pereira do Santos, a produção de 1994 faz uma adaptação da história, tomando elementos dos outros contos presentes em "Primeiras estórias", de Guimarães Rosa.
 Para ler o conto de GR ("A terceira margem do rio") e em seguida o do Mia Couto ("Nas águas do tempo"),
cf. circulosdeleitura.org.br

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