Primeira margem: no pra cá pra lá, no meio do rio, no de
repente, uma lancha de muitos pés, grande calado: os pés marolam pelas ondas
que a lancha faz. Passa rápido mas vi seu nome desenhado – LITERATURA. Atrás
rabeava uma corda. Segunda margem: chama-se o MENINO.
Menino, você é o Pai: contra o pai, conta o pai, outras primeiras estórias. Terceira margem: a POESIA
Bia Albernaz
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Vida vivida: falta de chão firme, de
segurança, de conforto – tudo ilusão. É
a escrita a vida de verdade? É a essência sem aparência, a liberdade de
inventar, de criar personagens sem máscaras para outros? Assim deveria ser? É
uma fuga? Um esconderijo de obrigações, deveres, compromissos? Escrever sem
regras impostas, sem padrão, respeitar somente o querer. É um delírio? Um
sonho? É comunicar com quem faz igual? Cada pessoa pode formar com o outro e o
outro e o outro – uma forma de sobreviver. Aí, aceita, se expõe e o seu
trabalho, suas ideias transformadas em histórias, memórias, graças, dramas.
Corre a vida paralela: funções
e papéis determinados. Rompe-se aqui e ali, mas o enquadramento sempre amarra.
A escrita solta.
Maria Tereza Albernaz
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Foto:BiaA. |
Ruth Liftschts
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Não é a primeira, segunda ou terceira margem, a
literatura é a canoa que nos
conduz. Ao se afastar da primeira margem, nos fornece o distanciamento necessário para que possamos vê-la em toda sua extensão e complexidade. O canoeiro do conto de Guimarães Rosa, por exemplo, viu arderem por ele
chamas insuspeitas. Da outra beira, a literatura nos descortina o conhecido e o
desconhecido. E à terceira margem,
nada é melhor do que ela para nos
levar.
Flávio Franklin
Com direção de Nelson Pereira do Santos, a produção de 1994 faz uma adaptação da história, tomando elementos dos outros contos presentes em "Primeiras estórias", de Guimarães Rosa. |
cf. circulosdeleitura.org.br
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