Camila Araujo
Abriu o tabuleiro, organizou um circulo no chão, esperou sua vez, fez os cálculos, jogou as fichas, venceu a rodada e recolheu as apostas; uns apostaram moedas de cinco centavos, outros figurinhas de futebol ou bolas de gude.
Segunda rodada; fez os mesmos cálculos, jogou as fichas e novamente foi o vencedor, terceira rodada e o mesmo ritual e o mesmo vencedor.
Invicto, tornou-se conhecido por todo bairro, era sempre visto sorridente andando pelas ruas com o tabuleiro debaixo do braço, ninguém o vencia, era uma espécie de reizinho, ganhava de todos os garotos, até dos mais velhos e inclusive estes sempre o chamavam para cabular aula, roubar revistas pornôs na banca de jornal e o coagiam a dividir os prêmios que ganhava.
Cansado de tanto vencer os outros meninos, decidiu arranjar adversários do outro sexo, era mais fácil ainda ganhar, já fazia seus planos no automático, tinha toda uma estratégia infalível, sentia-se uma espécie de Napoleão Bonaparte.
Porém, um desses dias na busca por novos rivais, ele chegou na mesma praça em frente ao cinema da cidade, com o mesmo tabuleiro desgastado debaixo do braço, abriu-o, organizou um circulo no chão e aguardou até alguém criar coragem para desafia-lo, embora muitos tivessem se aproximado para ver a partida, ninguém oferecera-se:
- ALGUÉM QUER JOGAR ? - Gritou o menino.
Sentada com o corpo miúdo e os pés em cima do banco, respondeu de longe uma menina de vestido verde listrado e linda sardas pontuando seu rosto delicado, ela pôs os pés no chão, caminhou até o rapazinho e sentou no gramado rente a ele.
Novamente o rapaz fez todo seu ritual e foi o vencedor, recolheu as miniaturas de monstrinhos que a garota havia apostado e saiu pela calçada esburacada com seu tabuleiro, a principio saboreou o sabor de mais uma vitória, mas em seguida começou a pensar na menininha, ela com seus expressivos olhos castanhos e sua doce voz encantadora não saiam de sua mente, como era diferente aquilo.
No dia seguinte, lá estava ele pronto para mais uma partida, já sabia que ia vencer, era automático, vivia no automático, abriu o tabuleiro, olhou ao redor esperando ver a tal garota, nenhum sinal dela, calculou, esperou e na hora em que jogou as fichas, ela surgiu trajando uma blusa listrada e um short branco, as fichas escaparam de seus dedos.
Silêncio, seguidos de alguns gritinhos de espanto... Perdeu.
E até seu adversário parecia surpreso, recolhia o prêmio como quem rouba um banco e saiu de fininho.
O nosso ex. invicto então, pôs o tabuleiro debaixo do braço e foi andando pela rua, antes de virar a esquina e entrar na casa dos avós com quem morava, lançou um ultimo olhar para a praça, ela devia estar lá, sentada com os pés no banco, ou brincando com as outras garotas.
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