24 de novembro de 2009

Divagações Viajantes

Férias em Boa Sorte, década de 40

Arlette Santos
     Há dias, assistindo a uma aula, ouvi a expressão “porteiras fechadas”, no seu sentido figurado, o que de repente resgatou da memória uma fase viajante da minha adolescência.

     Ainda bem criança, morando em Petrópolis, conheci Marlene, amiga de minha irmã mais velha. Pouco depois, sua família retornou a Santos Dumont, Minas Gerais, voltando a viver na Fazenda Recanto Feliz, e nós, um pouco mais tarde viemos para o Rio de Janeiro. Naquela época não havia internet e como não tínhamos telefone o jeito era usar a correspondência postal. Minha irmã, Dith, freqüentemente escrevia à Marlene e algum comentário a meu respeito, que até hoje desconheço, fez com que essa me enviasse uma carta simples, com alguns elogios, convidando-me para passar as férias na Fazenda. Mais do que prontamente, comecei a juntar meus trocadinhos para ajudar a comprar as passagens.
     Fui passar as férias na Fazenda. E, para minha alegria, retornei várias vezes mais. Na Fazenda havia uma escolinha e Marlene era a professora. Nos períodos de férias costumava encontrar Luiz, primo de Marlene, que, assim como eu, também cursava o ginasial. As mulheres da Fazenda eram ótimas cozinheiras, tanto em doces como em salgados. Fizemos um pacto: nas férias eu e Luiz daríamos as aulas e Marlene prepararia os quitutes para o café. Era um trato que satisfazia a todos. A escola funcionava da primeira a terceira série. Dividíamos o grupo em dois e desempenhávamos nossas tarefas a contento. Ao término das aulas, antes de voltarmos para casa, pegávamos os cavalos que já estavam a nossa espera e dávamos uma boa cavalgada nos arredores da Fazenda. Quando lá estive pela primeira vez o Sr. Serafim, pai da Marlene, me ensinou a montar.
     A Recanto Feliz era um desdobramento da Fazenda São Miguel, cujo proprietário, Sr. Ariovaldo, era pai do Sr. Serafim. A cada filho que casava, o Sr Ariovaldo presenteava com um pedaço de terra logo batizado geralmente com o nome de um santo. O pessoal era todo conhecido. Cada fazenda tinha suas “porteiras”. Havia as que davam acesso às fazendas, as que separavam as propriedades, as que limitavam as áreas de pastagem e as dos currais. Uma coisa que muito me satisfez foi aprender a emparelhar o cavalo com a porteira e abri-la sem precisar desmontar.
     São lembranças, puxam bons tempos idos e sorrateiramente fazem soar ao longe aqueles versos musicais da minha adolescência: o pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar.

Um comentário:

  1. Gostei do texto. É legal ver as diferenças de costumes e hábitos na sua época e na minha, a comunicação por carta por exemplo. A impressão que dá é que as coisas eram mais simples, felizes...
    Só tenho uma dúvida, quem é essa menina linda na foto ? (:

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