Elizabeth Bishop, no conto "A escola de redação E.U.A.", utiliza o termo, diferenciando-o, porém, da pintura primitiva. Na literatura primitiva, há desmazelo e afobação.
Enquanto o pintor primitivo é capaz de passar meses ou anos, se necessário, reproduzindo todas as folhas de relva de um gramado ou criando muros de tijolo em baixo-relevo, o escritor primitivo parece ter pressas em acabar logo com aquilo.
Outra característica que os diferencia, acrescenta, é a ausência de detalhes.
O pintor primitivo ama os detalhes, e os elabora e enfatiza em detrimento do todo. Mas quando o escritor primitivo utiliza detalhes, estes são muitas vezes absurdamente inadequados, e revelam muita coisa a respeito do autor sem dizer nada de relevante sobre o assunto em questão. Talvez isso prove que têm razão os escritores profissionais que com que freqüência se queixam de que pintar é mais divertido que escrever.
Enquanto o pintor primitivo é capaz de passar meses ou anos, se necessário, reproduzindo todas as folhas de relva de um gramado ou criando muros de tijolo em baixo-relevo, o escritor primitivo parece ter pressas em acabar logo com aquilo.
Outra característica que os diferencia, acrescenta, é a ausência de detalhes.
O pintor primitivo ama os detalhes, e os elabora e enfatiza em detrimento do todo. Mas quando o escritor primitivo utiliza detalhes, estes são muitas vezes absurdamente inadequados, e revelam muita coisa a respeito do autor sem dizer nada de relevante sobre o assunto em questão. Talvez isso prove que têm razão os escritores profissionais que com que freqüência se queixam de que pintar é mais divertido que escrever.
Talvez - conclui - as mesmas mulheres que apresentam míseros resumos de narrativas sem diálogos e sem nenhuma descrição de personagens e lugares não hesitassem em passar uma tarde inteira enfeitando um bolo de aniversário com glacê de cores diferentes.
In: “Esforços do afeto”, de ELIZABETH BISHOP, Companhia das Letras, São Paulo, 1996.
Não pensei muito a respeito do assunto e assumo uma atitude da literatura primitiva citada no texto - um certo desmazelo e afobação - ao tratar desse assunto. Acho injusto ou inadequado comparar as duas linguagens em qualquer estágio, primitivo ou de nível mais elevado. A pintura fala logo para os olhos, para o sentimento, para uma estética, tudo entrando mente a dentro pelo olhar que engloba um conjunto com harmonia ou não, equilíbrio ou não, etc. A escrita exige uma decodificação muito diferente, é mais exigente em suas particularidades pois as palavras carregam significados que espelham valores e sentidos culturais, universais, antigos, vividos, sentidos, repassados por gerações e sei lá mais o quê. Um texto não pode ser apreendido como um conjunto de letras e palavras, tem que ser lido linha por linha para significar algo. Acho desnecessário tentar comparar os dois universos - pintura e literatura - e submete-los a classificações estanques.
ResponderExcluir