26 de abril de 2011

Os tucanos voltaram

Ruth Liftschits
            Os tucanos voltaram.
            É quase noite, gritam na mata em frente.
            De desespero, de agonia?
            Atucanando e atucanados.
            Costumam vir de manhã,
            Me acordam, me atordoam.
            Gritos que pesam e oprimem.
            É o peso de estar só.
            Quero gritar minha solidão.
            Mas a quem chamar?
            Com gritos ninguém da minha espécie virá.
            Não para ajudar.
            Sim para calar, prender, levar.
            Gritos não me trarão companhia.
            Os tucanos voltaram.
            Eu preciso voltar.
            Fazer. Agir. Não somente pensar.
            Sofro imóvel, pensando, contida.
            Medo da vida, do fazer.
            Sempre a pensar no que poderia ser,
            Mas o tempo se escoa e nada faço.
            Não há mais tempo para todos os livros,
            Não há mais tempo para todas as coisas.
            Gritar não adianta.
            Meu espaço seguro  exclui o fazer.
            Só sei pensar, imaginar e deixar tudo morrer.
            Como transformar em realidade o que foi pensado?
            Como dar vida ao imaginado?
            Os tucanos voltaram.
            E eles, o que fazem?
            Comem insetos, frutas, roubam ovos de ninhos.
            Voam livremente.
            Tucanos não pensam, mas fazem.
            Eu penso e não faço.
            Os tucanos voltaram.

Um comentário:

  1. Realmente, quanto pensamento sem ação... temos que fazer e não só pensar, não é? É melhor se arrepender do que fez e não do que não fez... parabéns, adorei! Daisy

    ResponderExcluir