Suitcase, Jefferson Hayman |
Patrícia Fucci
Adalberto era representante comercial, um caixeiro viajante, sempre perambulando por esse mundo afora, em busca de novos mercados. Era um tipo comum, baixinho, magro e ligeiro. Andava rápido, com passos curtos. Mas mesmo com essa pressa toda, indo de lá pra cá e de cá pra lá, não raro, era acometido pela solidão.
E de tanto viajar sozinho, acabou desenvolvendo o hábito de levar com ele pessoas queridas, digo, dentro dos seus pensamentos. E assim o fazia, pois se tratando de pessoas bem chegadas quase não precisava adivinhar, já lhes conhecia o gosto, o que lhe conferia o poder de asseverar, sem risco de erro, o que achavam sobre essa ou aquela coisa. Inicialmente, costumava levar um de cada vez, mas com o tempo, passou a carregar dois e, às vezes, três companheiros. Quase não discordavam e, aos poucos, aquilo foi ficando enjoado.
Foi aí que Adalberto, a fim de espantar a mesmice, passou a levar consigo pessoas menos chegadas. Uma vez carregou seu senhorio, outra, sua gerente de banco. Parecia-lhe mais desafiador, pois destes não conhecia os hábitos, pelo que deveria ter mais atenção, puxaria mais por si, e isso era bom. Não tardou para que passasse a formar grupos com esses semi desconhecidos, o que rapidamente se transformou num caos. Às vezes passavam-se horas até que conseguissem resolver onde comer, sendo quase sempre difícil decidir se descansariam entre uma viagem e outra ou se seguiriam direto. Estava cansado disso também, mas não queria ficar só novamente.
Então teve uma idéia, passaria a levar consigo pessoas completamente desconhecidas, de preferência as que não tivessem qualquer rumo na vida, pois assim seguiriam seu caminho de bom grado. Buscou então, nos becos, viciados e prostitutas, marginais de toda sorte, na esperança de lhe servirem de companhia. Qual o quê, jamais conseguiu um minuto de paz com eles, traziam questões muito profundas, muito sofridas, e aquilo tudo estava fazendo mal ao nosso viajante, que passou a sentir-se ameaçado. Com todas aquelas vozes dentro da sua cabeça, não agüentaria mais muito tempo, estava exausto.
Foi quando uma voz de criança, lhe oferecendo pipoca, retirou-o dos seus conturbados pensamentos. Sim, aceitou a pipoca com prazer. Era uma linda menininha de cabelo vermelho, sentada ao seu lado no ônibus. Em poucos segundos, Adalberto já lhe sabia o nome, a idade e a brincadeira predileta. Estava vindo de férias da casa da avó e viajava acompanhada da mãe, que sentava dois bancos atrás. Então, Adalberto virou-se. Localizou a jovem senhora e, selando a recente camaradagem, propôs a troca de lugares.
E de tanto viajar sozinho, acabou desenvolvendo o hábito de levar com ele pessoas queridas, digo, dentro dos seus pensamentos. E assim o fazia, pois se tratando de pessoas bem chegadas quase não precisava adivinhar, já lhes conhecia o gosto, o que lhe conferia o poder de asseverar, sem risco de erro, o que achavam sobre essa ou aquela coisa. Inicialmente, costumava levar um de cada vez, mas com o tempo, passou a carregar dois e, às vezes, três companheiros. Quase não discordavam e, aos poucos, aquilo foi ficando enjoado.
Foi aí que Adalberto, a fim de espantar a mesmice, passou a levar consigo pessoas menos chegadas. Uma vez carregou seu senhorio, outra, sua gerente de banco. Parecia-lhe mais desafiador, pois destes não conhecia os hábitos, pelo que deveria ter mais atenção, puxaria mais por si, e isso era bom. Não tardou para que passasse a formar grupos com esses semi desconhecidos, o que rapidamente se transformou num caos. Às vezes passavam-se horas até que conseguissem resolver onde comer, sendo quase sempre difícil decidir se descansariam entre uma viagem e outra ou se seguiriam direto. Estava cansado disso também, mas não queria ficar só novamente.
Então teve uma idéia, passaria a levar consigo pessoas completamente desconhecidas, de preferência as que não tivessem qualquer rumo na vida, pois assim seguiriam seu caminho de bom grado. Buscou então, nos becos, viciados e prostitutas, marginais de toda sorte, na esperança de lhe servirem de companhia. Qual o quê, jamais conseguiu um minuto de paz com eles, traziam questões muito profundas, muito sofridas, e aquilo tudo estava fazendo mal ao nosso viajante, que passou a sentir-se ameaçado. Com todas aquelas vozes dentro da sua cabeça, não agüentaria mais muito tempo, estava exausto.
Foi quando uma voz de criança, lhe oferecendo pipoca, retirou-o dos seus conturbados pensamentos. Sim, aceitou a pipoca com prazer. Era uma linda menininha de cabelo vermelho, sentada ao seu lado no ônibus. Em poucos segundos, Adalberto já lhe sabia o nome, a idade e a brincadeira predileta. Estava vindo de férias da casa da avó e viajava acompanhada da mãe, que sentava dois bancos atrás. Então, Adalberto virou-se. Localizou a jovem senhora e, selando a recente camaradagem, propôs a troca de lugares.
Já desembarcado e, embora novamente sozinho na plataforma da rodoviária, Adalberto se percebeu aliviado.
Ao subir no próximo ônibus que finalmente o levaria para casa, após quinze dias de trabalho ininterruptos, sentia-se realmente cansado. Procurou um lugar na janela e recostou a cabeça. Estava leve, sonolento, as imagens perdendo o foco. Sentia-se muito bem, flutuando. Foi então que sonhou seu melhor sonho. Voava na garupa de um anjo louro que montava um cavalo alado e todo azul, que, em movimentos curvos, sobrevoava o mundo, que ia cada vez ficando mais longe, cada vez menor, até que, aos pouquinhos, foi sumindo, foi sumindo, sumindo.
Ao subir no próximo ônibus que finalmente o levaria para casa, após quinze dias de trabalho ininterruptos, sentia-se realmente cansado. Procurou um lugar na janela e recostou a cabeça. Estava leve, sonolento, as imagens perdendo o foco. Sentia-se muito bem, flutuando. Foi então que sonhou seu melhor sonho. Voava na garupa de um anjo louro que montava um cavalo alado e todo azul, que, em movimentos curvos, sobrevoava o mundo, que ia cada vez ficando mais longe, cada vez menor, até que, aos pouquinhos, foi sumindo, foi sumindo, sumindo.
Spike Gillespie |
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