8 de novembro de 2011

A volta do meu mundo rosa

Renata Figueiredo
Keith Haring. Ilustração do livro Love
          Vou lhes contar sobre o meu companheiro, o que me protege, me embeleza e torna o meu mundo cor-de-rosa. De cara, assim que o vi, me encantei. Primeiro, pela sua cor, depois, por ele representar justamente o que estava sentindo naquela cidade-luz, tudo era rosa. E por último, pela confiança em saber que ele não me deixaria na mão, afinal ele era de boa qualidade e de uma marca conhecida. Foi paixão à primeira vista. E me entreguei, com um pouquinho de receio, por este ser mais um, dentre tantos que já possuía. Seu preço era mediano. Na verdade, não deveria adquiri-lo mas o impulso foi mais forte que eu, não resisti, e acabei comprando-o. Feliz com a minha nova aquisição.
          Diretamente de Paris, ele veio juntinho de mim para a cidade maravilhosa. E todos os dias, passou a ser meu fiel parceiro. Houve uma vez, numa viagem à capital, no cerrado, em terras planaltinas, por um descuido, que o esqueci num quarto de hotel. Senti sua falta. Pensei em buscá-lo mas não ficamos muito tempo longe. Um anjo, lindo, teve o cuidado de reparar o meu esquecimento e trazê-lo para mim. Foi a primeira vez que o vi numa outra pessoa e confesso que gostei.
          Seguimos em frente em minha cidade, e sempre juntos. Até que por mais um descuido me desencontrei dele. Fui para minha aula de literatura e, no final do encontro, procurei por ele e não achei. Procurei daqui, procurei dali, e nada. Puxei da minha cabeça: quando foi a última vez que o vi? Tinha quase certeza que havia colocado meu companheiro sobre a mesa. Sabia que, num intervalo, tinha ido até o bar tomar um café e, no final, tinha passado no banheiro. Fui à busca. Olhei no bar, no banheiro, pelo chão, minhas amigas do curso examinaram suas bolsas, todos me ajudaram e nada. Fui para casa de  bicicleta  com um incômodo enorme. Quem me protegeria, camuflaria a minha tristeza e me daria a esperança de ter um mundo cor-de-rosa?
          Chegando em casa, desolada, me agarrei na última esperança: mandar um e-mail para todas as minhas amigas do curso para saber se alguém o havia levado por engano. Enviei a mensagem e cruzei os dedos bem fortes. Até rezei para que ele voltasse. Ficaria arrasada de tê-lo perdido por um descuido. Definitivamente ele não merecia isso.
          Até que, para minha felicidade, recebi uma resposta da minha amiga Gilda Niemeyer dizendo que ele estava com ela. Agradeci, e muito! E fiquei mais feliz ainda pela coincidência, pois ela foi a pessoa que me proporcionou a enorme alegria de poder desfrutar da melhor festa de quinze anos que vi na minha vida. A minha! Realizada em sua casa, pasmem,  projetada pelo meu ídolo, Niemeyer. Pois então. Mais uma vez ela me proporcionava uma enorme felicidade.
          Na aula seguinte, assim que cheguei, ela o colocou de volta em minhas mãos. E o que mais me chamou a atenção foi o detalhe como entregou o meu querido. Justamente da maneira como ele merecia ser cuidado, dentro de uma capinha própria. O que me fez pensar que tenho de cuidá-lo melhor porque não é sempre que terei uma sorte dessas. Bom, o que tenho a dizer é: obrigada por ter voltado, desculpa pela minha falta. Podem dizer por aí que você é plural, é mais de um. Mas para mim você é único. Te amo, meu óculos Ray ban cor-de-rosa.

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