13 de março de 2016

Mansfield Park: algumas observações de Nabokov - 1

Tema
Trata-se de uma comédia de costumes, de sorrisos e suspiros, cuja ação superficial acontece no intercurso emocional devido ao encontro de duas famílias provincianas. Fanny Price, a sobrinha agregada, é uma espécie de mascote da autora, a personagem através da qual filtra-se a história.



Há muitas razões para um romancista se sentir tentado a usar a custódia como tema literário:

1. a posição de estranhamento no seio tépido de uma família rende um fluxo constante de pathos;

2. a fácil adoção de um caminho romântico pelo agregado resulta em conflitos óbvios;

3. a posição de duplo observador distanciado e participante na vida diária da família torna o agregado um representante conveniente do autor.



O protótipo das donzelas tranquilas, cuja beleza tímida acaba por brilhar na íntegra através dos véus da humildade e abnegação quando a lógica da virtude triunfa sobre os azares da vida, é, claro, Cinderela. Dependente, desamparada, sem amigos, negligenciada, esquecida... e então se casa com o herói.

Mansfield Park é um conto de fadas, mas em certo sentido todos os romances também o são. À primeira vista, o estilo e o conteúdo de Jane Austen pode parecer antiquado, empolado, irreal. Essa é uma ilusão na qual sucumbe o mau leitor. O bom leitor está ciente de que a busca da vida real, pessoas reais, e assim por diante é um processo sem sentido quando se fala de livros. Em um livro, a realidade de uma pessoa, objeto, ou circunstância dependem exclusivamente do mundo do livro em questão. Um autor original sempre inventa um mundo original. Se um personagem ou uma ação se encaixa no padrão desse mundo, então se experimenta o choque agradável da verdade da arte, não importando quão improvável a pessoa ou coisa possa parecer, se transferida para o que os comentadores, revisores e críticos de livros, coitados, chamam de "vida real". Não existe tal coisa como a vida real para um autor ou gênio: ele próprio deve criá-la e, em seguida, criar as consequências. O encanto de Mansfield Park somente pode ser desfrutado quando se adota as suas convenções, as suas regras, o seu encantador faz-de-conta. Mansfield Park nunca existiu e seus habitantes nunca viveram.

 Tempo-espaço 
"Cerca de trinta anos atrás ...", assim começa o romance. Miss Austen escreveu-o entre 1811 e 1813, de modo que "há trinta anos" significaria, quando mencionado no início do romance, o ano de 1781. Foi então que a "Senhorita Maria Ward, de Huntingdon, com apenas £7.000 (como dote), teve a boa sorte de cativar Sir Thomas Bertram, de Mansfield Park, no condado de Northampton...". No entanto, a ação principal do romance acontece em 1808. O baile em Mansfield Park é realizado em uma quinta-feira, 22 de dezembro (se verificarmos antigos calendários, veremos que, em 1808, o dia 22 de dezembro cai na quinta-feira). Fanny Price, a jovem heroína, tem então 18 anos. Ela chegou em Mansfield Park, em 1800, com a idade de dez anos. Rei George III, uma figura bastante estranha, ocupava o trono da Inglaterra. Ele reinou de 1760 a 1820, um tempo bastante longo, ao final do qual estava quase louco, quando um regente, outro George, assume o poder. Em 1808, Napoleão estava no auge do poder na França; e a Grã-Bretanha estava em guerra com ele, enquanto Jefferson nos EUA aprovava a Lei de Embargo, que proibia os navios americanos de aportarem em território britânico e francês. Os ventos da história, contudo, mal se faziam sentir no isolamento de Mansfield Park, não fossem os negócios de Sir Thomas nas Pequenas Antilhas. Mansfield Park, nome da propriedade dos Bertram, é um lugar fictício localizado em Northampton (um lugar real), no coração da Inglaterra.

Diagramas de Nabokov para melhor apreciação do romance
Planta de Mansfield Park
Mapa da Inglaterra com locações do romance  




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