12 de junho de 2011

Questão de singularidade

Maria Tereza Albernaz
          Não sou escritora, uma simples leitora. Muito simples, muito comum. Esta deve ser a razão pela qual o meu desejo despretensioso de despejar, em um papel, idéias, confissões e histórias esbarrou em um artigo chamado “A vertigem da liberdade”. Vou me explicar. 
          Com vontade de escrever, deixei os meus pensamentos correrem até encontrar um tema para o exercício. Escolhido o assunto, comecei a anotar em listas o que eu gostaria de incluir no texto. Faço com freqüência listas de todo o tipo e, neste caso, não via outra forma de tratar a questão – gostos e desgostos poderiam identificar uma pessoa  idiossincrática? Pretendia escrever sobre isto.   
          Ainda esboçando parágrafos, quando parei para consultar o dicionário, me lembrei das palestras de José Castello que havia escutado recentemente. Como me entusiasmei com as falas deste cronista literário – assim foi chamado -, resolvi conhecer o seu blog. Lá encontrei o artigo com este sugestivo nome “A vertigem da liberdade”. Dele extraí uma lição que, de fato, é dirigida a escritores iniciantes. Aliás, o texto confirma o que já foi dito, de uma forma ou de outra, neste Atelier. Aqui mais suavemente, talvez por ser a Bia quem é. 
          José Castello alerta para o risco do uso desmedido de liberdade na escrita como se não fosse possível controlar o jorro de emoções íntimas do escritor. Em outras palavras, diz que o impulso ou o transe que faz o escritor derramar pensamentos em um papel só produz “matéria prima” a pedir trabalho, disciplina e esforço. Lembra João Cabral de Melo Neto que comparava o trabalho do escritor ao ofício do escultor. “Bloco de mármore, matéria prima que, através de cortes sucessivos, traz a luz, enfim, uma escultura.” Assim, ressalta que o resultado da escrita “solta” forma somente o primeiro “emaranhado” para ser trabalhado.
          Para fazer uma boa literatura é preciso escrever uma, duas... muitas vezes. Cortar, aprimorar, ir e voltar às fronteiras da essência do ser. Também observar regras. E a “alma caótica” do escritor deve aparecer somente nas entrelinhas da escrita. 
          Naquele momento, ler o artigo do José Castello me inibiu. Não me imagino escritora ou artista, nem mesmo compromissada com a “boa literatura”, mas gosto de escrever e também de deixar que meu ser ou minha “alma caótica”, como diz o José Castello, atravesse este canal. No dia que comecei a fazer as listas para seguir com o meu texto sobre idiossincrasia, estava completamente abandonada nos pensamentos espontâneos, inebriada pela “liberdade absoluta”. 
          Por ora, deixei de lado a idéia de revelar em meu texto um pouco de mim. Afinal escrever sobre idiossincrasia era só mais uma tentativa para chegar a este lugar. Concordo com José Castello. Preciso controlar a catarse emocional.

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