EPÍSTOLA
Mgrilo
Mãe,
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do seu filho com amor
***
VARAL INSPIRADO
Gilda Niemeyer
— Alô, é Dona Dora?
— Sim, sou eu, quem fala?
— É a Dalva, amiga da Rosa.
— Hum, responde Dora, angustiada e sentindo que chegava mais um problema.
— A senhora se lembra que eu trabalhei na sua casa de Ipanema, substituindo a Rosa? Deve lembrar que um dia resolvi fazer um bolo e, pra surpresa de todos, o bolo solou?
— Lembro bem, responde Dora, antecipando o que viria, disfarçando a ansiedade que tomava conta dela.
— A Rosa está muito mal desde que foi despedida, só faz chorar! Estamos todos preocupados com a situação dela. Ela gostava tanto da casa, da família e se dedicou tanto!...
Lá vem bomba!, pensa Dora, que responde sem demora:
—Você sabia que ela queimou o meu xale de seda lindo de morrer, trazido da viagem que fiz à India e que eu precisava de usar naquela noite pra festa de amigos, e sem me dizer nada me entregou o xale queimado embrulhadinho? Onde vou achar outro igual?
Dalva responde antes de Dora terminar a frase, ofegante, a voz imperiosa:
— Eu não sei, Dona Dora, é onde a senhora vai encontrar outra Rosa. E segue enumerando os fatos heróicos da amiga, a dedicação de anos, a guerreira que ela é , e com que valentia serviu a todos da família.
Dora começa a se mexer na cadeira, sentindo-se irritada e ansiosa, doida para desligar o telefone e fazer a Dalva se calar. Caramba, e ela ainda me liga às sete horas da manhã! Suas palavras são finais: — Vou pensar, encontraremos uma solução justa, mas agora preciso desligar.
Ela vive um conflito. Como encontrar a chave perdida? De fato, como fazer justiça a esse ser desolado por uma injustiça que diz ter sofrido? Dora caminha pela casa buscando inspiração para o enigma, desiste, insiste, até que se dirigindo para a área de serviço e olhando para o teto, verifica que aquele varal de roupas que por séculos ficou desprezado, pendurado nos ares e que ninguém sabia consertar porque não davam conta de estruturar as cordinhas, estava lá no seu lugarzinho de sempre, bonitinho, dizendo: oi! estou aqui cheio de fraldinhas, cuequinhas, blusinhas esticadas, bem colocadinhas, porque a Rosa, aquela craque em quase tudo, de pastéis à moquecas, a que conserta máquinas e geladeiras, guerreira, madeira de dar em doido, como bem classificou a amiga Dalva, teve a sabedoria de me colocar a serviço, pôs os neurônios pra funcionar. Chama ela de volta.
Dora liga de novo para Dalva.
— Diz para Rosa que eu quero ela de volta, me faz muita falta, não podemos ficar nem mais um dia sem a presença dela. Espero-a na segunda-feira.
E foi assim que a visão do varal de roupas, embandeirado, redimiu a ambas, patroa e funcionária, aproximando-as, fazendo-as amigas inseparáveis até hoje.
— A senhora se lembra que eu trabalhei na sua casa de Ipanema, substituindo a Rosa? Deve lembrar que um dia resolvi fazer um bolo e, pra surpresa de todos, o bolo solou?
— Lembro bem, responde Dora, antecipando o que viria, disfarçando a ansiedade que tomava conta dela.
— A Rosa está muito mal desde que foi despedida, só faz chorar! Estamos todos preocupados com a situação dela. Ela gostava tanto da casa, da família e se dedicou tanto!...
Lá vem bomba!, pensa Dora, que responde sem demora:
—Você sabia que ela queimou o meu xale de seda lindo de morrer, trazido da viagem que fiz à India e que eu precisava de usar naquela noite pra festa de amigos, e sem me dizer nada me entregou o xale queimado embrulhadinho? Onde vou achar outro igual?
Dalva responde antes de Dora terminar a frase, ofegante, a voz imperiosa:
— Eu não sei, Dona Dora, é onde a senhora vai encontrar outra Rosa. E segue enumerando os fatos heróicos da amiga, a dedicação de anos, a guerreira que ela é , e com que valentia serviu a todos da família.
Dora começa a se mexer na cadeira, sentindo-se irritada e ansiosa, doida para desligar o telefone e fazer a Dalva se calar. Caramba, e ela ainda me liga às sete horas da manhã! Suas palavras são finais: — Vou pensar, encontraremos uma solução justa, mas agora preciso desligar.
Ela vive um conflito. Como encontrar a chave perdida? De fato, como fazer justiça a esse ser desolado por uma injustiça que diz ter sofrido? Dora caminha pela casa buscando inspiração para o enigma, desiste, insiste, até que se dirigindo para a área de serviço e olhando para o teto, verifica que aquele varal de roupas que por séculos ficou desprezado, pendurado nos ares e que ninguém sabia consertar porque não davam conta de estruturar as cordinhas, estava lá no seu lugarzinho de sempre, bonitinho, dizendo: oi! estou aqui cheio de fraldinhas, cuequinhas, blusinhas esticadas, bem colocadinhas, porque a Rosa, aquela craque em quase tudo, de pastéis à moquecas, a que conserta máquinas e geladeiras, guerreira, madeira de dar em doido, como bem classificou a amiga Dalva, teve a sabedoria de me colocar a serviço, pôs os neurônios pra funcionar. Chama ela de volta.
Dora liga de novo para Dalva.
— Diz para Rosa que eu quero ela de volta, me faz muita falta, não podemos ficar nem mais um dia sem a presença dela. Espero-a na segunda-feira.
E foi assim que a visão do varal de roupas, embandeirado, redimiu a ambas, patroa e funcionária, aproximando-as, fazendo-as amigas inseparáveis até hoje.
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