20 de agosto de 2010

Caminhar, escrever

Toda pessoa deveria falar de suas estradas, de suas encruzilhadas, de seus bancos.
Toda pessoa deveria fazer o cadastro de seus campos perdidos.
Bachelard
Caminhar é desenvolver consciência muscular. Faz bem para a saúde do escritor transportar-se por uma vereda, particular, familiar, incomum ou imaginária. A cadência, a dificuldade de subir ficam marcados nos músculos, um bom armazenador de memórias. Lembrar do caminho é um bom exercício. A saúde vem com o texto, na página preenchida, em que cada esquina é descrita, e mais a sensação de calor, a chegada que não chega, a chegada que pode ser só uma parada para almoçar. Caminhar é pensar, ativar e variar a vida.

Foto: JMGLA
 Manoel de Barros lembra a ação caminhosa que converte treva em sabiá. Caminhar é partir do último domicílio conhecido para estudar formigas, de modo que na língua do caminhante se depositem  sombras, e heras e sarjetas se abram como asas em repouso.

Caminha-se, escreve-se, caminha-se, escreve-se. Pode ser em ruas antigas, pobres e solitárias. Pode ser com o som de sinos, sinal de que sua antiga pessoa está e ao mesmo tempo se desfaz, se faz menos notada. E, ao se fazer menos notada, destacam-se as coisas e os lugares por onde você caminha, coisas e lugares que inspiram climas e modos de dizer. O poeta é fruto do caminho. Disponível a mão para a caneta, para a tecla do computador. Se há disposição, há texto.

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