Tudo começou com a leitura de um poema de William Carlos Williams escrita a partir de um quadro de Brueghel (Paisagem com a queda de Ícaro, 1555). O mito de Ícaro é sempre revelador e a poesia de Williams, sem pretensão de revelar mistério algum, demarca com muita precisão e simplicidade os pontos cardeais desta paisagem, onde o humano e o sobrehumano se confrontam. Quem perde? Lá estão o lavrador e o filho desobediente do arquiteto Dédalo. A versificação de Williams goteja e ao mesmo tempo flui. Em sua obra poética, muitas vezes, ele toma uma só frase e a escande de modo que cada pedacinho dela se destaque. Sem quebra do ritmo. Querendo aprender um pouco desta sua técnica, me propus a fazer um exercício inspirada neste mesmo poema. Aqui apresento o poema de Williams, sua tradução portuguesa e o meu exercício, como introdução ao tema da relação entre arte e literatura; e do exercício da nossa arte de escrever a partir da leitura de escritores que admiramos.
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II Landscape with fall of IcarusWilliam Carlos Williams
According to Brueghelwhen Icarus fell
it was spring
a farmer was ploughing
his field
the whole pageantry
of the year was
awake tingling
near
the edge of the sea
concerned
with itself
sweating in the sun
that melted
the wings' wax
unsignificantly
off the coast
there was
a splash quite unnoticed
this was
Icarus drowning
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Paisagem com queda de ÍcaroTrad. de José Agostinho Baptista
De acordo com Brueghelquando Ícaro caiu
era primavera
um lavrador arava
os seus campos
todo o esplendor
do ano
formigava ali
à
beira do mar
consigo mesmo
preocupado
suando ao sol
que derretia
a cera das asas
perto
da costa
houve
uma pancada quase imperceptível
era Ícaro
que se afogava
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Mais uma manhãExercício de Bia Albernaz
esta éaquela de sempre
a mesma
da morte de Ícaro
que leio
no poema
de William
Carlos Williams
uma meditação
do poder da primavera
onde o sol
lambe o lavrador sem asas
e a natureza
neutraliza o artista.
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Na web, em busca da imagem do quadro para reproduzi-lo aqui, encontrei um texto, de Maria Alessandra Galbiatti ("Bruegel e Williams: uma leitura intersemiótica do mito de Ícaro", em: Todas as musas - ano 01- número 02 // jan-jul2010), que compara o poema e a tela, com base na teoria de Greimas. Neste texto, há uma indicação sobre uma página da Emory University, em Atlanta, com uma coletânea de poemas que falam de arte (The poet speaks of art).
Que post maravilhoso!
ResponderExcluirque merda
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