Luiz Felinto
Caminhava imerso em pensamentos quando encontrei Clarisse. Encontrei não é bem o termo, vislumbrei-a. Foi o bastante. O perfil, o rosto, os olhos, a boca, o corpo, tudo me dizia Clarisse. Duvidei. Cismado, parei para observá-la. Era Clarisse, a minha, minha grande e antiga paixão. Parecia a mesma, o tempo não lhe havia sido cruel. Enquanto se afastava, meus olhos iam com ela.
Foi há muito tempo. Aguardávamos o inicio da sessão de cinema no saguão quando nossos olhos se encontraram. Que olhos lindos, que boca sensual. O corpo nada ficava a dever às virgens do paraíso de Alá. Ofereci-lhe uma pipoca, ela, meio sem jeito, aceitou. Conversa vai, conversa vem, marcamos um encontro. Foi o início de nosso namoro. Apaixonei-me perdidamente. Ela, nem tanto.
Morava em uma rua arborizada e tranqüila da Tijuca. Passeávamos pelas ruas das redondezas de mãos dadas, íamos até a Praça Saens Pena, a uma sessão de cinema ou tomar sorvete – éramos jovens, muito jovens. Um dia, após uma semana de namoro, passávamos por um trecho mais escuro quando a puxei e roubei-lhe um beijo, o primeiro beijo. Depois disso o namoro esquentou. Eu a abraçava, apertava com força e beijava com sofreguidão, como se quisesse devorá-la, fazer dos dois um só ser. Ela retribuía com paixão, ou, pelo menos, parecia retribuir. Como foram prazerosos os bailes, o dançar agarradinho, rodar pelo salão murmurando versos e juras ao ouvido. Ainda não haviam sido inventados os verbos “ficar” e “transar”, por isso não passamos dos carinhos ardentes. Eram outros tempos, não havia a pílula, e os namoros eram mais comportados.
Ficamos assim por quase um ano. Depois ela foi esfriando, esfriando, até me dispensar com uma desculpa qualquer: não queria continuar comigo.
Ela se foi, a lembrança ficou, e durante muito tempo me fez companhia. Em noites de saudade, lembrava os boleros que dançávamos bem juntinhos. Sofria e dançava sozinho, mas com ela no pensamento. Ouvia a música suave e dançava: Solamente una vez amé em la vida, solamente una vez y nada más... Hoy mi playa se viste de amargura, porque tu barca tiene que partir, a cruzar otros mares de locura, cuida que no naufrague tu vivir... Era uma tristeza gostosa e, como toda paixão jovem, teve o seu lado bom, as descobertas, as experiências.
Clarisse passou. Não passou a lembrança. Agora mesmo, pensando nela, os versos de uma outra música me vêm à cabeça: Oh! Insensato coração, por que me fizestes sofrer! Por que de amor para entender, é preciso amar? Só louco amou como eu amei, só louco!
É, para amar tanto, só louco, insensato. Mas valeu, sempre valerá a pena amar Clarisse.
Foi há muito tempo. Aguardávamos o inicio da sessão de cinema no saguão quando nossos olhos se encontraram. Que olhos lindos, que boca sensual. O corpo nada ficava a dever às virgens do paraíso de Alá. Ofereci-lhe uma pipoca, ela, meio sem jeito, aceitou. Conversa vai, conversa vem, marcamos um encontro. Foi o início de nosso namoro. Apaixonei-me perdidamente. Ela, nem tanto.
Morava em uma rua arborizada e tranqüila da Tijuca. Passeávamos pelas ruas das redondezas de mãos dadas, íamos até a Praça Saens Pena, a uma sessão de cinema ou tomar sorvete – éramos jovens, muito jovens. Um dia, após uma semana de namoro, passávamos por um trecho mais escuro quando a puxei e roubei-lhe um beijo, o primeiro beijo. Depois disso o namoro esquentou. Eu a abraçava, apertava com força e beijava com sofreguidão, como se quisesse devorá-la, fazer dos dois um só ser. Ela retribuía com paixão, ou, pelo menos, parecia retribuir. Como foram prazerosos os bailes, o dançar agarradinho, rodar pelo salão murmurando versos e juras ao ouvido. Ainda não haviam sido inventados os verbos “ficar” e “transar”, por isso não passamos dos carinhos ardentes. Eram outros tempos, não havia a pílula, e os namoros eram mais comportados.
Ficamos assim por quase um ano. Depois ela foi esfriando, esfriando, até me dispensar com uma desculpa qualquer: não queria continuar comigo.
Ela se foi, a lembrança ficou, e durante muito tempo me fez companhia. Em noites de saudade, lembrava os boleros que dançávamos bem juntinhos. Sofria e dançava sozinho, mas com ela no pensamento. Ouvia a música suave e dançava: Solamente una vez amé em la vida, solamente una vez y nada más... Hoy mi playa se viste de amargura, porque tu barca tiene que partir, a cruzar otros mares de locura, cuida que no naufrague tu vivir... Era uma tristeza gostosa e, como toda paixão jovem, teve o seu lado bom, as descobertas, as experiências.
Clarisse passou. Não passou a lembrança. Agora mesmo, pensando nela, os versos de uma outra música me vêm à cabeça: Oh! Insensato coração, por que me fizestes sofrer! Por que de amor para entender, é preciso amar? Só louco amou como eu amei, só louco!
É, para amar tanto, só louco, insensato. Mas valeu, sempre valerá a pena amar Clarisse.
JMGLA |
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