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Sei que é criadora de palavras. Palavras que minam verdades.
De verdades eu sei.
Sei que é fazedora de belas-artes. Artes que desvelam sentimentos.
De sentimentos eu sei.
Sei que é compositora de sons. Sons avivam as almas.
De almas eu sei.
Mas de língua culta, também não sei.
Pilar Carvalho
* Interlocução feita a partir do poema "Línguas" de Manoel de Barros sobre a linguagem e coisas assim.
***
LínguasContenho a vocação pra não saber línguas cultas.
Sou capaz de entender mais as abelhas do que alemão.
Eu domino os instintos primitivos.
A única língua que estudei com força foi a portuguesa.
Estudei-a com força para poder errá-la ao dente.
A língua dos ìndios Guatós é murmura: é como se ao
dentro de suas palavras corresse um rio entre pedras.
A língua dos Guaranis é gárrula: para eles é muito
mais importante o rumor da palavras do que o sentido
que elas tenham.
Usam trinados até na dor.
Na língua dos Guanás há sempre uma sombra do
charco em que vivem.
Mas é língua matinal.
Há nos seus termos réstias de um sol infantil.
Entendo ainda o idioma inconversável das pedras.
É aquele idioma que melhor abrange o silêncio das palavras.
Sei também a linguagem dos pássaros – é só cantar.
Manoel de Barros
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