3 de dezembro de 2010

Otávio: o novo solteirão do Orkut

Hilda Armstrong (http://www.heurecaatelie.com.br/)
             Depois de um sólido casamento que durou 15 anos, Otávio sentia-se na flor da idade, às vésperas de completar 45 primaveras.
          Recusava o tratamento de “senhor”. Era contraditória a disposição para recomeçar a vida amorosa. Especialmente depois que conheceu o mundo encantado do Orkut.
          Ali, seu harém o tratava como um sheik. E sua idade não pesava em  novas conquistas.
          Toda noite trocava tórridos “depoimentos” cercados de cumplicidade e uma pseudo-privacidade que o mantinha protegido dos curiosos.
          Cada vez mais galanteador, em seu perfil multiplicavam-se pedidos de mulheres para serem adicionadas. Loiras, morenas, algumas transbordavam sensualidade. Todas eram lindas, pois as melhores fotos vão para o Orkut.
          Chegava a questionar a sobrevivência das prostitutas em tempos de internet. Por que alguém ainda pagaria por algo fácil e gratuitamente conquistado via redes sociais?
          Mensagens estilo emocional-brega chegavam em forma de “scraps”.  Algumas falavam de Jesus. Outras brilhavam e piscavam. Eram  portadoras de um singelo “Amo Você” ou “Lembrei de você hoje”.
          Serviam de chacota entre os colegas de trabalho, que xeretavam seu perfil diariamente. Mas garantiam companhia em jantares animados, que podiam ter como cenário uma famosa rede de fast food ou um requintado restaurante. Tudo dependeria da faixa etária da convidada.
          Para alavancar ainda mais seu ibope virtual precisava dominar as novidades daquela rede social. Sob a orientação de amigos experientes, foi estimulado a desenvolver um papo mais jovial:
          - Cara, pergunta como vai a “colheita feliz” dela.
          Mesmo desconhecendo o assunto, tascou a pergunta num “scrap”. E dali se desenvolveu um longo papo madrugada afora.
          Erros gramaticais escapavam vez por outra. Encontrou gente solitária e carente. Mas o que ele queria mesmo era farra.
          Inspirava-se a escrever cartas apaixonadas e poemas de amor e sexo. Tudo virava papel picado ao amanhecer. Não podia correr o risco de envolvimento sério.
          Entusiasmado migrou rumo a novas ferramentas de socialização. Arriscou sua pele, conversando ao mesmo tempo, com seis mulheres, pelo MSN. Começou a embolar a conversa. Enviar mensagem destinada para uma, à outra. E mulher, mesmo em momento de aventura não deixa barato esse tipo de “equívoco”. Parte para a aporrinhação.
          Diante do fato, restava desconectar. Voltava. Era hora de bloquear pessoas e evitar contratempos.
          Estava feliz com sua nova vida de solteiro. Sexo furtivo e ocasional, com cama de casal inteirinha só pra ele. 
***
Alberto Montt_Facebook (http://www.dosisdiarias.com/)

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