Maria Zambrano
A poesia adquire consciência na era da consciência. O poeta vai adquirindo, cada vez mais, consciência de sua poesia e de si. O poeta, pela primeira vez, teoriza sobre sua arte, e até pensa sobre sua inspiração, o poeta propriamente romântico pensa desde a sua inspiração - Novalis, Victor Hugo -. O poeta que o segue - Baudelaire - interpreta sua inspiração como trabalho. "A inspiração é trabalho todos os dias." O poeta já não sente ou não quer se sentir a mercê do arrebatamento, do delírio que o possui. E é tanto mais significativo, porque quem assim pensava era o mesmo que dizia: "Embriagai-vos, embriagai-vos sempre, de virtude, de vinho... que importa!", o mesmo de "em qualquer parte, contanto que seja fora do mundo!" Mas, neste caso, seria preciso distinguir entre a inspiração poética propriamente dita, e o que o homem Charles Baudelaire, vivente da época do positivismo, pensava. Suas idéias correspondiam plenamente às da época: primazia do trabalho, domínio total da consciência. E significam um grau mais no processo de aproximação à consciência pela poesia, e a afortunada união da inspiração com o esforço; do "poeta vate" com o "poeta fabër"; Baudelaire realizou plenamente o que atribuíra a seu gênio tutelar, Edgar Poe, "submetido à sua vontade o demônio fugitivo dos instantes felizes"*.
* Novas histórias extraordinárias
(Trecho de Filosofía y poesía, 5a. ed., Mexico: FCE, 2005. p.75)
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