Brito Broca
(Introdução do romance, em edição traduzida por José Geraldo Vieira, da José Olympio, Rio de Janeiro, 1952)
Dostoieviski trabalhava irregularmente, interrompido por inúmeros contratempos. A criação literária não lhe era, além disso, um processo fácil. A descida aos infernos, aos subterrâneos da alma, não se podia fazer suavemente. De onde as hesitações, os diversos esboços que precedem as versões definitivas dos seus romances. Para “O idiota”, os cadernos do autor estão cheios de anotações: assassínios, raptos, incestos. À versão inicial sucedem mais sete, todas diferentes, com diferentes heroínas.
(...) O sétimo esboço assinala verdadeira crise no processo de criação do herói principal. Dostoievski confessa-se indeciso ante o caráter do personagem, e escreve à margem: “Afinal, quem será ele: um impostor ou a encarnação de um ideal misterioso?” No fim desse esboço, o romancista anota, como quem acaba de fazer, subitamente, uma grande descoberta: “Ele é idiota, mas é um príncipe”.
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