Luigi Pareyson
A verdade transporta os homens, exaltando-os acima de si proprios, tornando também os humildes capazes de grandes coisas; as ideias se apossam dos homens, sujeitam-nos à realização do seu programa, reduzem-nos a meros instrumentos, quer se trate do herói cósmico-histórico ou da massa despersonalizada. Nenhuma escravidão é comparável àquela do homem relativamente às ideias que ele próprio produziu: pensemos no imperio da moda, do lugar comum, do culto da atualidade, dos mais diversos conformismos, e, sobretudo, na violência das lutas ideológicas, do fanatismo político e religioso, das guerras ditas de religião, e que melhor seria chamar de superstição, que é o falseamento puramente humano da religião.
O homem se torna escravo somente de si mesmo e de suas proprias ideias. Mas se a obediencia à razão sem verdade é a mais intoleravel das tiranias, não há nada de servil na obediencia do homem à verdade. Neste caso, a obediencia coincide com a liberdade, porque a verdade inspira, não domina; estimula, não impera; sustenta, não submete; é um apelo que pede resposta e testemunho, não uma imposição que oprima ou constranja; é um reclamo que coloca o homem diante das suas responsabilidades e o instiga a cumprir livremente o ato com o qual afirma a si mesmo, salvaguardando o proprio ser, recuperando a propria origem, estreitando indissoluvelmente o vínculo entre pessoa e verdade: "a verdade vos libertará".
Trecho retirado de Verdade e interpretação, trad. MHelena Garcez e Sandra Neves Abdo, SP: Martins Fontes, 2005, p.28.
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